Erika Figueiredo - Filosofia de Vida
Mentiras sinceras e Natal
Sou colérica por temperamento. Ser colérico significa sofrer de sincericídio, dizer a verdade sempre, doa a quem doer. Se alguém pergunta para um colérico o que ele acha de algo, precisa estar preparado para ouvir a resposta, porque seja esta qual for, será dita.
Isso me trouxe bastante problema na vida, até aprender a modular o tom e descobrir como controlar meu temperamento. Como ensinou Hipócrates, há mais de dois mil anos, o temperamento nasce com a gente, é imutável. O nosso temperamento pode ser baseado em 4 elementos – água, fogo, terra ou ar. Os coléricos, naturalmente, são regidos pelo elemento fogo.
O estudo dessa ferramenta é essencial para compreender as pessoas e o modo de lidar com estas, e saber o que esperar de cada uma delas. Porque, junto com o conhecimento dessa ciência dos temperamentos, vem o entendimento sobre o modo de lidar com o outro.
Para nós, coléricos, a mentira é uma afronta. Como está acostumado a lidar com a verdade a qualquer preço, o indivíduo regido pelo fogo não consegue lidar com pessoas que falseiam a realidade, ocultam coisas, contam estórias mirabolantes.
Somos aqueles que revelam o mentiroso em praça pública, e ainda saímos ofendidíssimos do recinto. Por conta disso, esse mundo de superficialidade e aparências sociais, falsidade e distorção dos fatos é muito complicado, para pessoas como eu. De uns anos para cá, à medida que fui aprimorando minha personalidade, e me aprofundando no estudo dos temperamentos humanos, sobretudo, tonou-se ainda mais difícil.
É importante ressaltar que o estudo dos temperamentos não tem conexão com a astrologia ou com outros simbolismos do esoterismo. Baseia-se, tão somente, na identificação do elemento que rege cada pessoa, e na compreensão de que o temperamento é imutável, ao longo da vida.
Hoje, não me exponho mais como antes. Não entro em guerras desnecessárias. Não quero impor a minha verdade a quem quer que seja. Mas... me mantenho bem longe de gente que falta com a honestidade, quando esta seria imprescindível. Me magoo? Sim, ainda não consigo ficar imune a certas atitudes. Mas, cada vez mais, vou entendendo que o ser humano é complicado, e que muitas coisas não podemos mudar.
Mentiras sinceras não me interessam. Prefiro que me firam com a verdade. Não entro em relações duvidosas, com pessoas obscuras, envoltas por sombras. O mito da caverna, contado por Platão, narra uma situação que é muito familiar a todos, na modernidade: um homem, acorrentado na escuridão de uma caverna, junto a vários outros, consegue soltar-se e ir em direção à claridade. Lá fora, descobre o sol, a natureza, e todo o mundo de possibilidades que lhe eram negadas, pela clausura da caverna.
Esse homem retorna eufórico, e narra aos demais o que viu e sentiu, Como seus companheiros não estão preparados para lidar com a verdade, e vivem de sombra e escuridão, resolvem matá-lo, a admitirem que está correto. Nossa sociedade vive assim, aprisionada pelos grilhões das mentiras sociais, da tolerância com os erros e vícios de comportamento dos outros, com a cegueira sobre defeitos e atitudes danosas à comunidade, praticados por muitos dos que estão entre nós.
Enquanto alguns buscam virtudes e valores morais, outros contentam-se com uma convivência rasa e vazia, para sentirem-se aceitos pelo grupo. Todos frágeis, inseguros, dependentes da opinião alheia, a fim de formarem uma personalidade própria e sentirem -se pertencentes a algum lugar ou grupo.
A maturidade traz um isolamento maior, uma capacidade ampliada de conviver consigo próprio e, sobretudo, honestidade para lidar com defeitos, qualidades, virtudes, vícios, erros, acertos, para ser, afinal, alguém de verdade.
Jesus não contou mentiras para agradar aos outros, Não buscou receber homenagens ou ser reconhecido como o filho de Deus. Pregou a verdade, sabendo de suas consequências, e pedindo aos homens que seguissem o seu exemplo, vivendo à sua imagem e semelhança.
Às vésperas de comemorarmos o seu aniversário, vejo uma sociedade totalmente apartada dos valores cristãos, com a maior parte de seus integrantes vivendo vidas despidas dos valores por Ele evocados. Podemos ter simplesmente mais um Natal, com presentes embaixo da árvore e presunto tender sobre a mesa. Ou podemos aproveitar a oportunidade, para refletirmos sobre o que, em nossas vidas, é de verdade.
Quando fui à Virgínia, em 2018, estudar com o professor Olavo de Carvalho, a primeira coisa que ele disse, em nosso curso A Corrupção da Inteligência, foi que pensássemos sobre o nosso obituário, e sobre o que diriam sobre nós, caso viéssemos a morrer amanhã.
Se você não se orgulha de seus valores, vive uma vida sem verdade e tem receio do que será dito em seu obituário, ainda dá tempo de mudar isso! Sempre dá! Comece hoje, mire-se no exemplo do Cristo, que não agradou a quase ninguém, mas deixou um legado eterno para a Humanidade.
Desejo a todos um maravilhoso Natal, com Jesus em nossos lares, em nossos corações e em nosso dia a dia!
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