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    Erika Figueiredo - Filosofia de Vida

    Cinzas

    Publicado 24/02/2021 às 21:34 | Autor: Plantão Enfoco
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    "Lembra que és pó e ao pó hás de tornar”

    Gênesis 3,19
    Falar do Carnaval e da Quaresma é importante, porque é necessário fazer um balanço honesto da vida que se leva, o ano todo. Foto: Pedro Conforte

    Carnaval significa “a festa da carne”. Originariamente, desde a idade média, significava três dias de celebração, que antecediam a Quaresma, uma época de recolhimento, oração, jejum e penitência, na qual mergulhava a Humanidade, em uma reflexão profunda sobre o sofrimento de Cristo, que morreu por nós.

    A quarta feira de cinzas é, justamente, o marco do encerramento dessa euforia, nessa tradição que perdura ao longo dos séculos, nos mais distintos cantos do mundo, para um mergulho interior, que antecede a Páscoa, no período chamado de Quaresma, quando recordamos a morte e a ressurreição de Jesus.

    A alusão às cinzas, no dia do término dos festejos, decorre dessa citação contida em Gênesis, para que nos lembremos que do pó viemos e ao pó retornaremos, fazendo um balanço de nossas vidas e escolhas, de tudo que valorizamos e repelimos, a fim de buscarmos o sentido de nossa existência. Afinal, se o Cristo sacrificou-se por nós, temos que fazer por merecer…

    Infelizmente, no mundo moderno, está fora de moda falar de religião, de Quaresma, e de qualquer outro tema que nos remeta ao senso de dever, ou a qualquer tipo de freio dos nossos instintos e prazeres. É antiquado ser cristão.

    A urgência que impregna as relações, as atitudes, os pensamentos, os desejos e comportamentos, aliada à inconsequência e aos excessos de nosso tempo, transformaram os festejos de carnaval em um show de horror, obscenidade, vulgaridade e pecado, sem precedentes, aqui no Brasil, que duram por até duas semanas.

    O país para, e todos se entorpecem, como se não houvesse amanhã, deixando as responsabilidades de lado, para cair na folia. É como se esse torpor fosse capaz de apagar os problemas, as tristezas, as dificuldades da vida, numa perda dos freios e dos limites, que naturalmente se impõem.

    Não há como esquecer o que fizeram com a imagem do Cristo, na Marques de Sapucaí. Tampouco a perda do pudor e da lucidez, nos blocos que pipocam pelas cidades. O carnaval não é mais a celebração da vida, mas sim, uma visão do Apocalipse.

    Do pó viemos e ao pó retornaremos…é preciso ter isso em mente, e não perder de vista essas palavrinhas que dizem tanto, sobre a vida e o memento mori (momento de nossa morte). Pois, se de nosso corpo só restarão cinzas, é preciso cuidar da alma, esta sim, imortal. E não é possível tirar férias da alma, nem no Carnaval…

    Para que possamos fitar o rosto de Deus, na hora de nossa morte, necessário se torna viver uma vida que tenha sentido, evoluindo como seres humanos, cumprindo as missões que nos foram destinadas e buscando a paz que nos foi tirada. O compromisso é pessoal e intransferível. Não admite fugas nem adiamentos.

    É, evidentemente, muito difícil. O caminho da porta estreita é para poucos. Vencer as más inclinações e buscar o bem, em um mundo repleto de tentações, é um desafio diário. É preciso ter muita disciplina e bastante equilíbrio, ante às facilidades que se apresentam, e as portas largas que se abrem.

    Falar do Carnaval e da Quaresma é importante, porque é necessário fazer um balanço honesto da vida que se leva, o ano todo. Há, infelizmente, muitos de nós, que acreditam que todo dia seja dia de divertimento, prazer, loucura e excessos, mergulhando nos vícios, na promiscuidade, nas festas e bares, no culto excessivo do corpo e do sexo, sem limitação. Deixando responsabilidades, família, religião, trabalho em segundo plano. Vivendo uma falsa alegria que se repete infinitamente.

    Essa porta da euforia, que é larga e fornece acesso a quem queira entrar nesse caminho, infelizmente não permite que se conheçam as três grandes maravilhas desta vida, que dão sentido a tudo que nos acontece, e nos fornecem força para superarmos os obstáculos: a verdade, o amor e Deus.

    Apenas quem passa pela porta estreita da verdade, pode conhecer o que esta encerra - o amor verdadeiro e a fé plena e irrestrita em Deus. Sem estes, quando voltarmos a ser pó, não teremos aproveitado a nossa passagem por este mundo para evoluirmos, nos tornando seres humanos melhores. O que significa que, de nossas cinzas, nada restará, pois nossa alma não se elevará ao alto, já que não cuidamos dela, quando nos foi dada essa oportunidade.

    É preciso entender que a vida não se esgota no prazer. Ela é muito mais do que isso. Vida é tarefa, é missão, é serviço ao próximo, é amor ao semelhante. Vida é o que acontece todos os dias, e dentro de nossas funções e responsabilidades, vamos dando sentido à nossa existência.

    Ame a Deus, cuide dos seus, desempenhe suas tarefas sem reclamar, não culpe ninguém pelos seus infortúnios, goste da sua vida. Não amaldiçoe seus problemas. Não desista de caminhar. Você tem muito mais do que merece, e faz muito menos do que precisa. Não faça corpo mole.

    E, como que por um milagre, você de repente verá as coisas se encaixando, o futuro se transformando em presente, bem à frente dos seus olhos, os seus projetos acontecendo. Porque, para quem busca a verdade, a recompensa sempre vem. De um modo ou de outro, ela chega. E você perceberá que o propósito de sua vida foi alcançado.

    Aproveite essa Quaresma para transformar seu modo de pensar e suas atitudes no mundo. Escolha a porta estreita da verdade. Vai doer, no início. Mas vai te libertar.

    “Fé é acreditarmos naquilo que não vemos, e a recompensa dessa fé, é vermos aquilo no que acreditamos”

    Mahatma Gandhi

    “O propósito da vida é encontrar o fardo mais pesado que você pode carregar e carregá-lo”

    Jordan B Peterson
    Imagem ilustrativa da imagem Cinzas

    A niteroiense Erika da Rocha Figueiredo é escritora, promotora de Justiça Criminal, Mestre em Ciências Penais e Criminologia pela UCAM, membro da Escola de Altos Estudos em Ciências Criminais e do MP Pro Sociedade, aluna do Seminário de Filosofia e da Academia da Inteligência. Me siga no Instagram @erikarfig

    Texto original da Tribuna Diária publicado em 22/02.

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