Filme
Qual o limite do corpo humano?
Longa concorreu ao Globo de Ouro
Por vezes usamos expressões das quais não pensamos ou jamais vamos sentir realmente o que dissemos: morrer de fome, ou de sede ou de cansaço. O limite humano, motivo de incontáveis debates, é posto novamente à prova no filme ‘A sociedade da neve’, disponível no Netflix.
Com direção do espanhol Juan Antônio Bayona (O Impossível), o longa, que concorreu ao Globo de Ouro, mostra o caso real de mais de 40 membros de um time de rúgbi uruguaio que é convidado para um torneio no Chile. O avião em que eles estão acaba caindo nos Andes, revelando o lado do ser humano difícil de descobrir não fosse aquelas condições em que se encontravam. O episódio também ficou marcado como o milagre dos Andes.
A história por si só já gera comoção e curiosidade tamanho o realismo das cenas: poltronas voando e, literalmente, amassando os sobreviventes e mortos dentro da aeronave. A magreza dos longos e difíceis dias (mais de dois meses) se traduzindo, muitas vezes, em morte. Além do elenco latino-americano, ponto alto da trama.
O mesmo enredo de sobrevivência já foi transformado em filme em 1993, quando ‘Vivos’, com direção de Frank Marshall, trazia Ethan Hawke no elenco recheado de norte-americanos. Não há comparações a se fazer entre as duas produções.
A falta de esperança de serem encontrados, de comida, exaustos e queimados pelo gelo arrebatador das montanhas, mostra, em detalhes, até onde o corpo humano pode aguentar. Humanidade e força da natureza são colocados frente a frente em uma dicotomia difícil de descobrir vencedores ou perdedores.
Nas cenas dentro do que sobrou do avião em que os sobreviventes montam uma espécie de ‘abrigo’ à espera do resgate, o movimento de câmera, apertado e focado nos rostos, traz perfeitamente a sensação de claustrofobia e desespero, frente às faces ossudas e desnudas de carne em razão do longo período sem alimentação. Não raro, episódios de confusão mental, dilemas éticos e até religiosos, são colocados em discussão.
A recorrência da antropofagia, ingestão de carne humana de um cadáver, se revela em uma tentativa de ‘ganhar’ alguns dias e se distanciar, ainda que momentaneamente, da morte. A prática também colocou em discussão o canibalismo, que se caracteriza pela rotina e hábito de matar alguém para comer, o que não aconteceu entre os sobreviventes.
Alguns restos ou lembranças dessa tragédia repleta de superação, estão no Museu dos Andes, no Uruguai, que ajudam a contar esse episódio, além de livros e filmes. No fim, a pergunta se volta para nós mesmos: até onde somos capazes de superar nossos limites e darmos tudo do nosso corpo?
Perdeu documentos, objetos ou achou e deseja devolver? Clique aqui e participe do grupo do Enfoco no Facebook. Tá tudo lá!